"A súbita sensação de realização após a compreensão da essência de algo."

Minhas palavras são como um olhar acompanhado de um sorriso, são as janelas de minha casa!

Essas estarão sempre abertas para que o ar se renove e as pessoas possam espiar aquilo que permito aparecer.

Se as cores do interior lhe chamaram a atenção, entre e fique à vontade. Seja bem vindo! :)


sábado, 20 de março de 2010

Miau

Essa noite não sonhei. Sempre que dormimos, sonhamos; mas nem sempre conseguimos nos lembrar. Bom, ao menos é o que dizem. Essa noite não sonhei, pois não dormi. A razão? Manifestações sonoras de intenso sofrimento e saudosismo emitidas por um felino da 3º idade. Acho fantástica nossa capacidade consciente de escolher o que ouvir. Em meio a conversas paralelas numa roda de amigos, conseguimos abafar os sons pra escutar somente uma voz. Durante uma leitura interessante, conseguimos focar a atenção e ignorar o que existe a nossa volta. Ao ter o sono interrompido pela ópera do felino, comecei a pensar nisso. Automaticamente todos os sons começaram a ser percebidos! O barulho do frigobar, o tic - tac do relógio; mesmo com seu andar suave amortecido pelas almofadinhas plantares, podia ouvir o estalar da tábua corrida enquanto transitava pela casa. Definitivamente, meus pais não podem mais dormir fora. Normalmente tenho surtos de inspiração ao perder o sono, mas a preguiça de ir buscar papel e caneta me impede de documentá-los. Esse sedentarismo se estende por toda manhã. Muitos trechos bacanas se perdem. São frases que somem e palavras que insistem em se esconder. Uma ou outra até resolve dar o ar da graça ao longo do dia, mas ai não tem mais jeito. Já foi, é deixar pra lá, esquecer. Talvez tenham sumido, pois de fato não eram importantes. Nada que devesse ser passado adiante, transmitido ou dissipado. Afinal, são apenas relatos de experiências. O felino me proporcionou o surto e o fato de ser importante fez com que vencesse um pecado capital e agora estivesse aqui, digitando esse monte de bobagens! O que me inspirou não foi o som, mas o sentimento que havia nele. Acho interessante as variações tônicas que os felinos usam pra diferenciar suas vontades, é como se pudessem falar. Pensando bem, é ótimo que continuem assim. Nada de evoluções adaptativas! Imagine se nossos cães e gatos desenvolvessem essa capacidade? Quantas situações constrangedoras e coisas bizarras seus olhinhos de butuca já não presenciaram? Seria um desastre! Acho que começo a gostar da idéia de ouvir seus miados pela madugada afora... antes eles que publicar por exemplo num Blog, meus segredos mais íntimos. ;)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Carta

(Na ausência de novos textos, recorri aos arquivados no computador.)
Essa é uma carta destinada ao Dr Cláudio Moura de Andrade Jr, ginecologista e obstetra que hoje reside no Rio de Janeiro. Há alguns anos atrás, morou com seus avós enquanto cursava a faculdade de medicina, no apartamento que moro aqui em Teresópolis. Como sei disso? Calma, já vão entender. O curioso dessa história é que não nos conhecemos, ou melhor... ele não me conhece. Ao chegar nesse apartamento, o encontrei do jeitinho que os antigos donos haviam deixado; inclusive, estava fechado há um bom tempo. Móveis, roupas, livros... tinha de tudo! Como não conhecia muita gente na cidade e sou sim uma pessoa curiosa, fiquei a investigar o passado alheio através desses objetos. Posso lhes garantir que foi uma experiência muito especial. Achei que deveria compartilhá-la com o dono de todas aquelas lembranças! O procurei no "google" e encontrei o endereço de um de seus consultórios no Rio, até hoje não sei se recebeu minha carta... se era o endereço certo, se essa de fato chegou...
Enfim, se ele não teve conhecimento... vocês terão. :)

"Há muito tempo penso em lhe escrever...
Cheguei a pensar se não estaria tomando seu tempo e até mesmo que não tivesse o menor interesse em saber quem sou e o que tenho a dizer. Desisti de tentar imaginar ou prever suas reações, pois acredito que coisas boas devam ser ditas, ainda que pra lembrá-lo o quanto é especial, caso em algum momento tenha duvidado disso. Me chamo Renata e tenho 21 anos vividos no caos urbano do Rio de Janeiro; hoje, devido às circunstâncias e graças ao destino, tenho a satisfação de morar em Teresópolis, na Tijuca, Rua Prefeito Sebastião Teixeira, mais precisamente no apartamento que fora de seus avós, e é justamente por isso que preciso lhe falar. Tive o prazer de conhecer o Sr Moacyr pessoalmente quando fomos à sua casa no Leblon assinar a escritura de compra e venda do imóvel, apesar de sentir meu coração apertar ao ver uma alma lúcida presa em um corpo debilitado pela idade, fiquei imensamente feliz por fitar seus olhinhos azuis e merecer um sorriso do autor de inúmeros bilhetes carinhosos aos netos e personagem de tantas histórias impregnadas nos objetos pessoais que foram deixados. Não sei se sabe, mas para facilitar a negociação, o imóvel nos foi vendido e entregue com tudo que estava dentro. Tenha certeza de que fizemos o possível para encaminhar os pertences de seus avós à pessoas e lugares em que seriam úteis, inclusive, a moça que cuidava do apartamento, Dona Marlene, ficou com a maioria. Como pôde notar, sou apaixonada pelas palavras, adoro livros e tenho um carinho especial por manuscritos. Acredito que sejamos capazes, ainda que inconscientemente, de transferir sentimentos para o papel, por isso não deixei que nada fosse jogado fora. Fiquei horas sentada no chão do quarto enquanto me deliciava com os pertences! Os manuseava por alguns minutos e tentava sentir ou adivinhar como seriam seus donos e por quais experiências haviam passado; perdida no meio de livros e cadernos empoeirados, entre um espirro e outro, percebi que um pequeno papel caíra de dentro de um deles; era um bilhete destinado à você; o chamava de Claudinho e pedia que retornasse a ligação de uma menina da qual o nome não me recordo. Nesse instante senti um calafrio daqueles de arrepiar! Um simples papel não é capaz de determinar o tempo, o recado parecia ser recente, como se ao passar os dedos pela tinta ainda pudesse borrá-la. Fiquei a especular quem poderia ser a tal menina... uma amiga querendo saber quando seria a próxima prova prática de anatomia ou quem sabe até uma namorada? Sem querer, já havia penetrado em sua intimidade e confesso sem o menor pudôr ter estado cada vez mais interessada. Eu e meus pais nos mudamos pra cá por questões financeiras, buscávamos melhor qualidade e menor custo de vida. A cidade nos promove segurança, clima agradável, contato com a natureza; não há dúvidas de que tenhamos feito a escolha certa. Estou amando morar aqui e tenho certeza que os donos anteriores, assim como os anos que passou cursando a faculdade, contribuem para essa sensação de bem estar! De vez em quando dou uma olhada nas suas apostilas da faculdade, devidamente separadas por período! Seu compromisso e organização me inspiram e servem de estímulo pra persistir em busca daquilo que desejo. Descobri que se especializou em ginecologia, é uma área muito interessante; principalmente se pensarmos que é à partir do sistema reprodutor feminino que são geradas pequenas vidas. Espero que esteja cada dia mais certo de sua escolha e apaixonado pelo seu trabalho. Tenho certeza que se lembra com saudades da época da FESO em que as responsabilidades não eram tantas e os problemas e preocupações eram menores. Morar no aconchego do lar de seus avós, cheio de carinhos e mimos! Os amigos que fez, as festas, as noites mal dormidas estudando, as provas, a residência, a formatura... 6 anos de luta e altas mensalidades! Dizem que o estudante de medicina vale o preço de uma vida. Suponho que já esteja casado e talvez até tenha filhos; o mesmo bem que me fez, ainda que sem a intenção, desejo à você e sua família. Parabéns pela brilhante carreira acadêmica e pelos avós corujas que o acolheram durante essa fase tão importante e especial. O apartamento está bem mudado, ganhou um ar mais moderno, mas a vista do quintal deve ser a mesma! Quando vier à cidade e quiser relembrar seus dias de universitário, fique à vontade, sabe o endereço. Caso queira recuperar seus livros e cadernos, estão todos aqui, em uso e constante movimentação! Seria um desperdício aprisionar tanto conhecimento numa gaveta acumulando pó. Bom Dr Cláudio Moura de Andrade Jr ou Claudinho, era isso que precisava que soubesse. Obrigada pela atenção e perdoe a "falsa" intimidade, deve ser consequência dos bilhetinhos de amigos em seus cadernos, acabei me sentindo próxima demais.

Um grande abraço, fique com Deus.
Renata Varela P. Gomes."

terça-feira, 9 de março de 2010

Passou

Como uma blusa surrada, uma imagem de baixa resolução. Falta nitidez, brilho, falta contraste; o antigo colorido agora se apresenta em tons de cinza. Já não são quentes nem frias, são neutras, inexpressivas, transparentes... é possível enxergar além. Pensar já não me ocupa o tempo nem me tira o sono. Lembrar, já não me aperta o coração. Ouvir aquela música já não me faz chorar e aquele cheiro, já não me trás saudade. O ponto cego já foi e os segundos que levam pra se acostumar com a claridade pós escuridão, foram bem aproveitados. Virou lembrança guardada na memória, pedaço de passado componente do meu eu, a certeza de como agir amanhã. Foi mais uma viagem no suposto mundo que criei. Mais uma de minhas ilusões utópicas ainda que por muitas vezes, parecesse real. Talvez porque tenha desejado que fosse, talvez porque tivessem desejado o contrário. Realidade por ilusão; prefiro viver aquilo que criei a não ter escolha.

sábado, 6 de março de 2010

Zona de conforto

O pensamento simplista que tanto promovo, nem sempre pode ser seguido à risca; ele é objetivo, direto, como o próprio nome diz, é simples demais. Desde quando nós, seres humanos, somos considerados criaturas simples? Somos sim, demasiadamente complexos! Não estou dizendo que devamos problematizar todas as situações que passarmos, mas também não podemos ignorar o fato de muitas vezes, estarmos lidando com o sentimento alheio. Começar, terminar, dar continuidade... aparentemente ações que dependem unicamente de algo chamado vontade. O grande lance, é que essa vontade se vê perdida em milhares de questionamentos revelando prós e contras de todo e qualquer movimento. De fato, eles existem e independente da escolha tomada, continuarão existindo. O importante é não temer arriscar, afinal... o que está em jogo é a nossa felicidade. E quando essa entra na aposta, é porque não há mais o que se perder. A questão aqui não é lutar pelo que se quer, convencer alguém de estar certa ou ser uma boa opção de escolha, é desestabilizar. Abandonar o comodismo e entrar na zona de confronto! É complicado, eu sei... mas, e o que não é? Se mantivermos o pensamento de que tudo vai dar certo, nada fará com que seja diferente. "Vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir." :)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A perfeita oclusão

É encontrar comida quando se tem fome, água quando se tem sede. É oferecer à alguém que procura. Conhecer o homem perfeito numa sexta-feira de carnaval e descobrir que ele é mesmo muito mais que se podia imaginar. O corte de cabelo que te agrada e um sorriso de deixar qualquer futura cirurgiã dentista muito satisfeita! Um jeitinho tímido que mascara um fogo sem limites... um corpo que chama, um beijo que vicia; e os olhos... esses tem forma de gotas horizontais! São apenas gotas em uma infinidade de suposições e expectativas. São gotas de desejo a mergulhar num mar de felicidade. Preciso novamente experimentar, reviver...me encontrar no exato momento em que a pouco me perdi. Preciso estar de volta. :)