"A súbita sensação de realização após a compreensão da essência de algo."

Minhas palavras são como um olhar acompanhado de um sorriso, são as janelas de minha casa!

Essas estarão sempre abertas para que o ar se renove e as pessoas possam espiar aquilo que permito aparecer.

Se as cores do interior lhe chamaram a atenção, entre e fique à vontade. Seja bem vindo! :)


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Curriculum Vitae

A expressão que entitula o texto abaixo vem do latim que em português quer dizer, currículo de vida. Ironicamente, seu conteúdo baseia-se na trajetória educacional e acadêmica de um indivíduo; aonde cursou e concluíu os ensinos fundamental e médio e se tem ou não ensino superior, como se viver se limitasse a salas de aula e corredores de universidades. Hoje em dia não ter o diploma de ensino médio nos impede de cursar uma faculdade e a ausência da mesma, de conseguirmos um emprego em que sejamos suficientemente remunerados. Não estou dizendo que não seja importante, de forma alguma; tenho uma enorme admiração pelos mestres e professores em suas instituições, só não concordo com o fato da ausência de um diploma nos excluir ou anular, mesmo que tenhamos experiência na área. Eis o que questiono: até que ponto o que pensamos, sentimos e vivemos é menos importante que o diploma? Certa vez presenciei uma situação um tanto curiosa, pelo fato de ser comum e jamais ter me causado tal reação.
Estava próxima a alguns alunos do nono ano que estudávam matemática, um deles parecia não estar acompanhando o raciocínio e então um colega se ofereceu pra ajudá-lo. Percebendo que não estava adiantando, comunicou ao resto do grupo:
- Gente, ele não consegue resolver o problema mais ridículo! É muito burro!
A mudança na expressão do jovem enquanto faziam algazarra zombando de sua dificuldade foi notória. Era de fato um problema simples, mas isso não significava que fosse incapaz. Já havia me informado sobre seu histórico escolar, sua dificuldade de concentração e aprendizado se devia a ausência da figura paterna e a constante mudança de endereço e cidade. Como esperar que alguém que vive nessa bagunça conseguisse resolver problemas envolvendo cálculos? Isso sem mencionar a atitude dos outros jovens, que para estarem rindo deveriam ser gênios, não é mesmo? Já poderiam inclusive estar lecionando! Se bem que com essa didática toda, não durariam mais de uma hora no emprego. Ao vê-lo constrangido, com os olhos baixos ameaçando chorar, não me contive e imediatamnte intervi:
- Não, ele não é burro. Saber ou não isso aí não quer dizer nada.
Vocês só precisam dominar esse assunto para conseguir ao longo dos anos diplomas e certificados... Isso apenas para provar ao estado, a sociedade e aos seus pais de que são capazes, e sabem por que? Pois eles precisam disso pra se orgulhar, se orgulham por pouco, muito pouco. Sei que exagerei, mas não podia deixar que o diminuíssem daquela maneira, não diante dos meus olhos. As pessoas tem limitações, se ele não era bom em matemática talvez fosse em história. Ainda que não fosse bom em nenhuma matéria, não devia permitir que o fizessem duvidar nem por um segundo que fosse menos digno de estar alí que os demais. Ninguém é tão limitado a ponto de não saber fazer nada. De que adianta ter facilidade em física, querer ser piloto e ter medo de altura? Ou o 1° lugar de medicina não conseguir ver sangue? O currículo da vida não deve se limitar a diplomas e aprovações e sim a romper nossos próprios limites, pois assim estaremos fazendo por nós. Quando tiro 10,0 em inglês, acho bacana. Quando tiro 9,5, fico possessa! O bom mesmo é pegar aquela matéria que promove uma hemorragia no boletim e parece estar em outra língua, estudar a madrugada toda na noite anterior a prova e tirar 6,0. "Nossa! Que nota medíocre Renata.. nem é azul, a hemorragia continua aí, fala sério! Perdeu uma noite de sono pra tirar um mísero 6,0?" Exato, mas não perdi nada não; como diz meu pai: deixo pra dormir quando morrer, e o que eu ganhei, não há dinheiro no mundo nem nota 10,0 em inglês que possa pagar: reconhecimento, auto confiança, superação. Talvez não pra você, para a professora ou meu pai, que irá assinar o boletim desconsolado, mas para mim que sei o quanto foi difícil entender todos aqueles processos e memorizar as fórmulas. Sabe o lance do copo com água pela metade? Ele pode estar meio cheio ou meio vazio, depende do ponto de vista do observador. Prefiro valorizar o que tenho em mãos e não o que deixou de acontecer, não ficarei triste nem me considerando burra por ter errado 4 questões; apenas procurarei identificar meu erro e corrigí-lo para que não volte a cometer, ficarei muito feliz por ter acertado aquelas 6, ter conseguido desenvolver de maneira correta e ter lembrado a porcaria da fórmula. Eu continuo dizendo que essa é a base de tudo. Me desculpe se não tirei o 10,0 que a professora queria como prova de que tem feito um bom trabalho, nem que meus pais precisávam para ter certeza que seu dinheiro não estaria sendo mal investido, me desculpe se os decepcionei... mas, antes à vocês que a mim! Estou em paz com a minha consciência e de cabeça erguida. Acho um absurdo e me angustio só de pensar que existem crianças que apanham e ficam de castigo por causa de notas ruins. Não há ninguém orgulhoso e contente pelos 6 acertos, estão insatisfeitos pois queriam 10 e envergonhados pelos 4 erros; ainda dizem que tirar a nota máxima não é mais que a nossa obrigação já que só fazemos isso, estudar. Também acho que parabenizá-lo pelo que foi conquistado e compreender o que não foi, encorajando-o a estudar mais para que na próxima prova o número de acertos seja ainda maior.. não seja mais que a obrigação de alguém que optou por ser tutor de uma vida. Eu não disse que precisavam de provas e se orgulhávam por pouco? Vamos, continue preocupando-se apenas em lotar seu currículo com competências e habilidades até transbordar. Faça o que os outros esperam, dê à eles essa satisfação. No final das contas, quando virar comida de inseto no jazigo da família, perceberá que farão com o seu currículo cheio de títulos, o mesmo que fez com sua vida: o rasgarão pausadamente em 2, 4, 6 e consequentes pedacinhos! Viveu por eles e pra eles, e quanto à você? É melhor mesmo que exista vida após a morte pra que possa recuperar o tempo perdido... Lembrei-me agora de uma música que gosto muito! "Quantas chances disperdicei quando o que eu mais queria era pra provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém." É, de fato! Ah, Renato Russo! Gente boa vem pra cá se libertar através da consciência alterada e fazer orgias! Tudo bem que duram pouco, mas o suficiente pra deixar sua mensagem. Eu, por via das dúvidas já estou me adiantando. Não faço questão de ter um 10 fácil, mas um 6 difícil... Não me importo em viver o que pra alguns seja uma vidinha medíocre, pelo menos é a que escolhi pra mim.

Um comentário:

Unknown disse...

A preocupação com os títulos deve ser valorizada porém controlada, pois também concordo que a vida não se baste apenas em salas de aula. Conheço gente que deixou de casar, viajar, sair por causa de pós, mestrado, doutorado... Não posso dizer que seja um absurdo, trata-se da vida de uma outra pessoa, mas que é no mínimo estranho deixar de viver a juventude para viver de títulos, isso é.
Beijos.